terça-feira, 23 de setembro de 2014

De Jacareí para a Nova Zelândia: como o rugby mudou a vida de Cruz

Matheus Cruz, 18 anos, começou a jogar rugby como um entretenimento na escola, integrou-se à família Jacareí Rugby e, dois anos depois, foi eleito o melhor jogador juvenil do Brasil, condição que lhe valeu uma bolsa para estudar e desenvolver o rugby na meca deste esporte: a Nova Zelândia.

Cruz, como é conhecido no meio do rugby, concedeu esta entrevista para a comunicação do Jacareí Rugby na véspera do embarque com a seleção brasileira juvenil para o Uruguai a fim de disputar o sul-americano da categoria, quando conquistaram a inédita terceira colocação.


Pedro Corat, assessor de comunicação do Jacareí Rugby

Cruz, como o rugby entrou na sua vida?

Comecei a jogar na escola, na oitava série, em 2011. Vários amigos já treinavam mas eu não gostava muito, jogava futebol na época e via o rugby como um esporte de contato. Comecei a treinar por influência de um amigo, mas só ia quando dava, nada muito sério. Mas no começo de 2012 passei a levar o rugby como meu primeiro esporte, fui me dedicando mais e melhorando a cada jogo.

E desde o começo você já tinha intenção de seguir o caminho profissional ou encarava o rugby apenas como diversão?

No começo era só diversão, uma forma de descontrair com os amigos. Os valores contidos no rugby também influenciaram minha decisão de pratica-lo, mas em nenhum momento eu pensava em algo profissional, era um hobby mesmo. Mas ao longo do tempo comecei a participar de campeonatos nacionais e estaduais, fui convocado para a seleção brasileira e percebi que o rugby poderia me levar a um lugar mais alto.

Qual a influência que o Jacareí Rugby teve no seu desenvolvimento como jogador?
Quando comecei a jogar tinha 15 anos e me espelhava nos mais velhos, no M19, que hoje é a base do time adulto. Queria ser como eles e também como meus treinadores, o Julio (Faria, jogador e coordenador técnico do Jacareí Rugby), o Mathias (Matheus Daniel, atleta e técnico do Jacareí, atualmente também treina na Nova Zelândia) que na época jogavam pelo São José. Neste período o M19 quase chegou ao título paulista, ficou por um jogo. E a preparação deles foi muito intensa, se esforçaram muito. Eu pude acompanhar e passei a admirar a determinação que tinham. No final de 2011 o Julio me chamou para integrar a equipe no brasileiro de sevens, quando fomos campeões. Eu joguei só um jogo, mas foi muito importante estar lá, ter sido campeão aos 15 anos.
Fale um pouco sobre o processo que o levou à Nova Zelândia, desde a possibilidade de ganhar a bolsa, a escolha como melhor jogador juvenil de 2013.
Foi muito importante o investimento feito pelos patrocinadores (da CBRU) que ofereceram a bolsa (Taylor - Michel Etlin), empresas que investem bastante no rugby brasileiro, além do apoio logístico da CBRu. Os patrocinadores fizeram este contato com a CBRu, dizendo que tinham a bolsa e iriam oferecer ao destaque brasileiro da categoria under-18. Eu pude ser escolhido e a CBRu sempre me orientou para que tudo desse certo na viagem. E tudo deu certo, graças a Deus.
 Quais foram as primeiras impressões assim que você começou a treinar e conhecer o dia a dia do colégio em que estava?
Cheguei muito animado depois de dois dias de voo e fui direto para a escola (Burnside High School, na cidade de Christchurch), sem dormir nem nada. Lá em todos os lugares você vê rugby, e para um cara do Brasil que ama o rugby isso é um sonho. Então a primeira impressão foi muito boa e durou a viagem toda.
Como foi recebido pela sociedade neozelandesa de maneira geral?
Fui muito bem recebido pelos colegas da escola e do rugby, pela família deles, por todos. São muito legais, um povo muito gente boa. Se você pede uma informação na rua a pessoa vai tentar te ajudar de qualquer maneira, até se você tem o inglês ruim eles vão tentar deduzir o que você quer dizer. Ainda mais se você é um estrangeiro que foi para jogar rugby, até as pessoas que não gostam de rugby acabam sendo mais receptivas por causa disso.
Você foi bem aceito no universo do rugby de lá pelo fato de ser de um país com menos tradição neste esporte?
No começo foi um pouco estranho, pois eu demorei para treinar junto com meu time, o time da escola. Treinava com uns japoneses que faziam parte do mesmo programa que eu. Os neozelandeses estranharam eu ser brasileiro, alguns nem sabiam que tinha rugby no Brasil. Mas depois do primeiro jogo fui conquistando a confiança, reconheceram que eu sabia jogar e disseram que evoluí muito ao longo dos treinos. Fui pegando entrosamento e meu jogo passou a fluir mais.
Foi como chegar um neozelandês aqui para jogar futebol e surpreender todo mundo, né?
Foi bem parecido, bem bacana. Quando vim embora falaram pra eu voltar para a próxima temporada, isso foi uma coisa bem marcante.
Você percebeu muita diferença no tratamento dado ao esporte em geral na Nova Zelândia em relação ao que você conhecia do Brasil?
Com certeza, com certeza. A estrutura é muito diferente, parece outro mundo. As escolas são preparadas para isso, você vê times de rugby, futebol, basquete, handebol, netball (esporte similar ao basquete muito comum na NZ, praticado principalmente por mulheres) em todas as escolas. Então, em geral é um mundo diferente, lá as meninas também praticam um ou mais esportes. Eles usam broches com as conquistas do esporte no uniforme da escola, achei isso bem bacana, uma cultura bem legal.
Como você pretende retribuir ao Jacareí e também ao rugby brasileiro o incentivo que teve para conquistar a experiência de ir para a Nova Zelândia?
Espero continuar trabalhando duro, seguir firme nos meus objetivos, traçando boas metas tanto na forma física como na técnica e lutar por conquistas ao Jacareí e à seleção brasileira. A única coisa que posso prometer é bastante empenho e trazer as experiências que adquiri lá, tanto na parte do jogo em si como na parte dos ensinamentos. Acho que hoje consigo ensinar o rugby às categorias menores, à geração que vai ser o futuro do rugby no Brasil.
Fale um pouco sobre sua rotina na Nova Zelândia: treinos, estudos, vida social.
Era uma rotina bem intensa. Ia para a escola de manhã e cada dia tinha um horário de aula com treinos de rugby intercalados. Por exemplo, tinha uma aula de inglês e depois um treino de habilidade de passe, em seguida uma preparação voltada ao sevens. Os treinos específicos me fizeram aumentar bastante minhas habilidades. No período da tarde treinava com o time, em trabalhos coletivos e individuais. Na vida social procurava interagir com meus home stays, as pessoas que cuidavam de mim, saía com os meninos de lá e queria curtir o país e absorver um pouco da cultura deles.
Sua família apoiou a decisão de ir praticar rugby do outro lado do mundo?
Sim, Sim, ficaram muito felizes porque sempre foi um sonho do meu pai eu poder conhecer outro país e foi por meio do rugby que consegui conquistar isso, com meu esforço. Minha família me deu todo o suporte financeiro e psicológico, foi bem bacana.
Qual a importância de intercâmbios como o que você fez para desenvolver ainda mais o rugby no Brasil?
É muito difícil viver apenas do rugby no Brasil, você precisa treinar e trabalhar, vai ficando mais velho e tem que arcar com as responsabilidades da vida. No intercâmbio você deixa tudo isso de lado por um tempo e se dedica somente ao rugby, vive o rugby intensamente. Então aconselho o intercâmbio a todos que queiram melhorar e ter um bom nível de rugby e é importante que seja em algum país que é uma máquina no esporte.
Quais as impressões que o povo neozelandês, principalmente quem atua no rugby, tem do rugby brasileiro? Eles acreditam que um dia nosso país poderá ser uma potência neste esporte?
Eles tiveram uma boa impressão comigo e com outros dois meninos de Ilhabela que também estavam treinando lá, mas não têm uma visão tão boa do rugby brasileiro pelo fato de nunca terem visto um jogo internacional da seleção e também pela colocação do nosso país no ranking mundial. Mas enxergam o Brasil como um time que joga “alegre”, falavam sempre que nós jogávamos com sorriso no rosto mesmo quando perdíamos e queríamos melhorar sempre. Eles comentaram sim que acreditam na melhora do Brasil, principalmente por conta de o rugby voltar às Olímpiadas aqui.
Como está a preparação da seleção de rugby deles para as Olímpiadas do Rio 2016?
Não cheguei a ver isso especificamente... Bastante gente falava sobre isso comigo por eu ser brasileiro mas parece que eles se planejam campeonato por campeonato, tanto que não vi nenhuma divulgação das Olimpíadas. E também o rugby sevens lá não tem tanta presença na mídia, é mais o rugby union. Eles também perguntavam se eu ia jogar as Olimpíadas, o que é um sonho e vou trabalhar para isso. Mas eles se preparam bem para todos os torneios, então devem estar focados em 2016 sim.
Você percebeu os valores do rugby inseridos no cotidiano da sociedade neozelandesa?
Sim, percebi bastante. A sociedade como um todo é muito respeitosa e dá para ver muito nos atletas os valores do rugby. Eles são muito determinados e unidos, nunca desistem dentro de campo, respeitam os adversários e os companheiros... Isso é bem nítido. Muitos dos meninos que jogavam comigo são filhos de ex-atletas que impõem os valores do rugby em casa. Na minha escola tinha uma regra de todos limparem suas chuteiras antes de jogar e muitos já faziam isso antes mesmo de a escola pedir, por influência de seus pais. Coisas assim passam de geração em geração lá.



O Jacareí Rugby tem patrocínio da Prefeitura de Jacareí, CCR NovaDutra, CNA Inglês Definitivo, Plani, Colégio Antônio Afonso, Vale Construir Resende, Aliança Francesa e JP Editora, além de NS, Instituto Abaré e EDP com apoio do Instituto EDP, uma realização da Associação Esportiva Jacareí Rugby e Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude por meio da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte.

Obrigado pelo suporte e torcida dedicados ao Jacareí Rugby!

Para visualizar mais fotos e maiores informações do Jacareí Rugby: facebook.com/jacareirugby e www.jacareirugby.com.br

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Crédito fotos: Arquivo pessoal Matheus Cruz

Fotos: Cruz em ação pela Burnside High School

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