Matheus
Cruz, 18 anos, começou a jogar rugby como um entretenimento na escola,
integrou-se à família Jacareí Rugby e, dois anos depois, foi eleito o melhor
jogador juvenil do Brasil, condição que lhe valeu uma bolsa para estudar e
desenvolver o rugby na meca deste esporte: a Nova Zelândia.
Cruz, como é conhecido no meio do rugby, concedeu esta entrevista para a comunicação do Jacareí Rugby na véspera do embarque com a seleção brasileira juvenil para o Uruguai a fim de disputar o sul-americano da categoria, quando conquistaram a inédita terceira colocação.
Pedro Corat, assessor de
comunicação do Jacareí Rugby
Cruz, como o
rugby entrou na sua vida?
Comecei
a jogar na escola, na oitava série, em 2011. Vários amigos já treinavam mas eu
não gostava muito, jogava futebol na época e via o rugby como um esporte de
contato. Comecei a treinar por influência de um amigo, mas só ia quando dava,
nada muito sério. Mas no começo de 2012 passei a levar o rugby como meu
primeiro esporte, fui me dedicando mais e melhorando a cada jogo.
E desde o começo
você já tinha intenção de seguir o caminho profissional ou encarava o rugby
apenas como diversão?
No
começo era só diversão, uma forma de descontrair com os amigos. Os valores
contidos no rugby também influenciaram minha decisão de pratica-lo, mas em
nenhum momento eu pensava em algo profissional, era um hobby mesmo. Mas ao
longo do tempo comecei a participar de campeonatos nacionais e estaduais, fui
convocado para a seleção brasileira e percebi que o rugby poderia me levar a um
lugar mais alto.
Qual a
influência que o Jacareí Rugby teve no seu desenvolvimento como jogador?
Quando comecei a
jogar tinha 15 anos e me espelhava nos mais velhos, no M19, que hoje é a base
do time adulto. Queria ser como eles e também como meus treinadores, o Julio (Faria, jogador e coordenador técnico do
Jacareí Rugby), o Mathias (Matheus
Daniel, atleta e técnico do Jacareí, atualmente também treina na Nova Zelândia)
que na época jogavam pelo São José. Neste período o M19 quase chegou ao título
paulista, ficou por um jogo. E a preparação deles foi muito intensa, se
esforçaram muito. Eu pude acompanhar e passei a admirar a determinação que
tinham. No final de 2011 o Julio me chamou para integrar a equipe no brasileiro
de sevens, quando fomos campeões. Eu joguei só um jogo, mas foi muito
importante estar lá, ter sido campeão aos 15 anos.
Fale um pouco sobre o processo que o levou à Nova
Zelândia, desde a possibilidade de ganhar a bolsa, a escolha como melhor
jogador juvenil de 2013.
Foi muito
importante o investimento feito pelos patrocinadores (da CBRU) que ofereceram a bolsa (Taylor - Michel Etlin), empresas que
investem bastante no rugby brasileiro, além do apoio logístico da CBRu. Os
patrocinadores fizeram este contato com a CBRu, dizendo que tinham a bolsa e
iriam oferecer ao destaque brasileiro da categoria under-18. Eu pude ser
escolhido e a CBRu sempre me orientou para que tudo desse certo na viagem. E
tudo deu certo, graças a Deus.
Quais
foram as primeiras impressões assim que você começou a treinar e conhecer o dia
a dia do colégio em que estava?
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK1TZoeol1NaNhzdwlAHeqHlP1bHpZEPqeIKDuhfxEjl1SpP19ftVhN6zvXAMmzk1SOWrwI20caU3mxYqWDzok3UjiuxFUJp0v04H7xfCn4hspKUaZwNGcAg0rw5bJuD7juWJZJ-bGzUo/s1600/IMG-20140922-WA0008.jpg)
Como foi recebido pela sociedade neozelandesa de
maneira geral?
Fui muito bem
recebido pelos colegas da escola e do rugby, pela família deles, por todos. São
muito legais, um povo muito gente boa. Se você pede uma informação na rua a
pessoa vai tentar te ajudar de qualquer maneira, até se você tem o inglês ruim
eles vão tentar deduzir o que você quer dizer. Ainda mais se você é um
estrangeiro que foi para jogar rugby, até as pessoas que não gostam de rugby acabam
sendo mais receptivas por causa disso.
Você foi bem aceito no universo do rugby de lá pelo
fato de ser de um país com menos tradição neste esporte?
No começo foi um
pouco estranho, pois eu demorei para treinar junto com meu time, o time da
escola. Treinava com uns japoneses que faziam parte do mesmo programa que eu.
Os neozelandeses estranharam eu ser brasileiro, alguns nem sabiam que tinha
rugby no Brasil. Mas depois do primeiro jogo fui conquistando a confiança,
reconheceram que eu sabia jogar e disseram que evoluí muito ao longo dos
treinos. Fui pegando entrosamento e meu jogo passou a fluir mais.
Foi como chegar um neozelandês aqui para jogar
futebol e surpreender todo mundo, né?
Foi bem
parecido, bem bacana. Quando vim embora falaram pra eu voltar para a próxima
temporada, isso foi uma coisa bem marcante.
Você percebeu muita diferença no tratamento dado ao
esporte em geral na Nova Zelândia em relação ao que você conhecia do Brasil?
Com certeza, com
certeza. A estrutura é muito diferente, parece outro mundo. As escolas são
preparadas para isso, você vê times de rugby, futebol, basquete, handebol,
netball (esporte similar ao basquete
muito comum na NZ, praticado principalmente por mulheres) em todas as
escolas. Então, em geral é um mundo diferente, lá as meninas também praticam um
ou mais esportes. Eles usam broches com as conquistas do esporte no uniforme da
escola, achei isso bem bacana, uma cultura bem legal.
Como você pretende retribuir ao Jacareí e também ao
rugby brasileiro o incentivo que teve para conquistar a experiência de ir para
a Nova Zelândia?
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf3bpsivsmnZZOnGlwjLD5pfPzRybgH76tmH3p5l6JmBZFcFviBKlrnxk8rKhMUPgDvgZMEwH7rBKP0G0YCCh28I5_YMWiQkEcnY_3CXPDsuixLLsKK6gY2QOp11xNcesuZeHIRh-A1AU/s1600/IMG-20140922-WA0003.jpg)
Fale um pouco sobre sua rotina na Nova Zelândia:
treinos, estudos, vida social.
Era uma rotina
bem intensa. Ia para a escola de manhã e cada dia tinha um horário de aula com
treinos de rugby intercalados. Por exemplo, tinha uma aula de inglês e depois
um treino de habilidade de passe, em seguida uma preparação voltada ao sevens.
Os treinos específicos me fizeram aumentar bastante minhas habilidades. No
período da tarde treinava com o time, em trabalhos coletivos e individuais. Na
vida social procurava interagir com meus home
stays, as pessoas que cuidavam de mim, saía com os meninos de lá e queria
curtir o país e absorver um pouco da cultura deles.
Sua família apoiou a decisão de ir praticar rugby do
outro lado do mundo?
Sim, Sim,
ficaram muito felizes porque sempre foi um sonho do meu pai eu poder conhecer
outro país e foi por meio do rugby que consegui conquistar isso, com meu
esforço. Minha família me deu todo o suporte financeiro e psicológico, foi bem
bacana.
Qual a importância de intercâmbios como o que você fez
para desenvolver ainda mais o rugby no Brasil?
É muito difícil
viver apenas do rugby no Brasil, você precisa treinar e trabalhar, vai ficando
mais velho e tem que arcar com as responsabilidades da vida. No intercâmbio
você deixa tudo isso de lado por um tempo e se dedica somente ao rugby, vive o
rugby intensamente. Então aconselho o intercâmbio a todos que queiram melhorar
e ter um bom nível de rugby e é importante que seja em algum país que é uma
máquina no esporte.
Quais as impressões que o povo neozelandês,
principalmente quem atua no rugby, tem do rugby brasileiro? Eles acreditam que
um dia nosso país poderá ser uma potência neste esporte?
Eles tiveram uma
boa impressão comigo e com outros dois meninos de Ilhabela que também estavam
treinando lá, mas não têm uma visão tão boa do rugby brasileiro pelo fato de
nunca terem visto um jogo internacional da seleção e também pela colocação do
nosso país no ranking mundial. Mas enxergam o Brasil como um time que joga
“alegre”, falavam sempre que nós jogávamos com sorriso no rosto mesmo quando
perdíamos e queríamos melhorar sempre. Eles comentaram sim que acreditam na
melhora do Brasil, principalmente por conta de o rugby voltar às Olímpiadas
aqui.
Como está a preparação da seleção de rugby deles
para as Olímpiadas do Rio 2016?
Não cheguei a
ver isso especificamente... Bastante gente falava sobre isso comigo por eu ser
brasileiro mas parece que eles se planejam campeonato por campeonato, tanto que
não vi nenhuma divulgação das Olimpíadas. E também o rugby sevens lá não tem
tanta presença na mídia, é mais o rugby union. Eles também perguntavam se eu ia
jogar as Olimpíadas, o que é um sonho e vou trabalhar para isso. Mas eles se
preparam bem para todos os torneios, então devem estar focados em 2016 sim.
Você percebeu os valores do rugby inseridos no
cotidiano da sociedade neozelandesa?
Sim, percebi
bastante. A sociedade como um todo é muito respeitosa e dá para ver muito nos
atletas os valores do rugby. Eles são muito determinados e unidos, nunca
desistem dentro de campo, respeitam os adversários e os companheiros... Isso é
bem nítido. Muitos dos meninos que jogavam comigo são filhos de ex-atletas que
impõem os valores do rugby em casa. Na minha escola tinha uma regra de todos
limparem suas chuteiras antes de jogar e muitos já faziam isso antes mesmo de a
escola pedir, por influência de seus pais. Coisas assim passam de geração em
geração lá.
O
Jacareí Rugby tem patrocínio da Prefeitura de Jacareí, CCR NovaDutra, CNA
Inglês Definitivo, Plani, Colégio Antônio Afonso, Vale Construir Resende,
Aliança Francesa e JP Editora, além de NS, Instituto Abaré e EDP com apoio do
Instituto EDP, uma realização da Associação Esportiva Jacareí Rugby e Governo
do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude por
meio da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte.
Obrigado pelo suporte e torcida dedicados ao Jacareí Rugby!
Para visualizar mais fotos e
maiores informações do Jacareí Rugby: facebook.com/jacareirugby e
www.jacareirugby.com.br
Caso necessite de fotos em melhor
resolução, favor nos contatar
Crédito fotos: Arquivo pessoal Matheus Cruz
Fotos: Cruz em ação pela Burnside High School
Nenhum comentário:
Postar um comentário